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sexta-feira, 22 de julho de 2011

SAÚDE DO TRABALHADOR:

Efeitos psicológicos provocados pela dificuldade de inserção no mercado de trabalho.

Juliana de Almeida Lima*



No mundo de hoje, em decorrência da contínua evolução da ciência tecnológica, nos deparamos com uma sociedade onde predomina o homem como massa, em detrimento do homem como indivíduo.

O trabalho envolve demandas de necessidades individuais e organizacionais em sintonia. Quando elas não são atendidas, as vinculações pessoa-empresa modificam-se e criam-se processos patogênicos de adaptação como o desligamento da empresa, a perda de promoção ou o isolamento na carreira profissional, provocando a formação de conflitos.

No ambiente de trabalho, Dejours (1986) aponta dois tipos de sofrimentos fundamentais: a insatisfação e a ansiedade que acompanham o indivíduo que realiza tarefas com graus diferentes de complexidade.

O homem é capaz de responder não só às ameaças concretas como também a situações como quebra de laços familiares e de estruturas sociais, privação de necessidades básicas, separação, aposentadoria, perda de emprego, entre outros. O homem, como ser multidimensional, constituído de corpo, mente e suas interações com o meio, pode apresentar doenças psicossomáticas que representariam um mecanismo de defesa, no qual o sujeito transforma o problema psicológico em fisiológico.

A saúde psíquica do trabalhador é vista como expressão de um estado disposicional caracterizado pelo equilíbrio psíquico marcado pela vivência de prazer e sofrer no trabalho. A vivência de prazeres ou de sofrimento depende da mediação entre a subjetividade do trabalhador e as condições (ambientais, sócio-culturais, econômicas e políticas) nos quais o trabalho está inserido; a organização do trabalho exerce um papel facilitador para a saúde psíquica do trabalhador quando oferece espaço para expressões das individualidades, não impondo igualmente a todos o mesmo caminho pela busca do prazer e para proteção contra o sofrimento.

A ansiedade de inserção no mercado de trabalho e a busca contínua do mesmo geram um sofrimento como fonte de adoecimento quando permanece e, não é enfrentado pelas defesas do organismo ou mobilizações subjetivas. O sofrimento é controlado pelas estratégias defensivas, para impedir que se transforme em patologias.

Quando há uma falência ou uma deficiência nesses sistemas defensivos, aparecem sintomas orgânicos. A exclusão imediata do trabalho passa a ser percebida como punição.

Os sintomas psíquicos, nomeados como “mentais” e “emocionais”, estão relacionados à diminuição da concentração, memória, confusão, ansiedade, depressão, frustração, medo e impaciência. O desgaste no homem não ocorre tão somente por processos naturais, como o envelhecimento ou a doença em sua dimensão exclusivamente biológica, já que os fatores psicossociais também são fundamentais. Considerando-se que o trabalho ocupa tempo expressivo da vida humana, constituindo-se dessa forma em um fator psicossocial significativo, é a partir dessa idéia central que se tem baseado as pesquisas mais modernas sobre saúde mental e trabalho.

Visto que o trabalho é uma via de subjetivação e inserção social, fica claro o impacto social e psicológicos decorrentes desta subjetividade do individuo. Discussões teóricas-práticas apontam significativo sofrimento psíquico daqueles que se vêem desfiliados socialmente por motivos de desemprego, sendo tal sofrimento conseqüência de atrelagem imoral das concepções de trabalho, honestidade e valorização social que encerram no ato de trabalhar as vias de inserção/ inscrição social..

O conflito desencadeado psiquicamente no indivíduo entre suas metas, as estruturas de uma empresa e as suas necessidades individuais, quando em discordância, torna-se um agente estressor. Deste modo, as necessidades do sujeito que não são atendidas ou consideradas, tornando a não inserção do trabalho como insatisfação, ansiedade e podendo ocasionar a depressão.

A depressão está relacionada com situações de perda física ou afetiva e é caracterizada por um grande contingente de sintomas que podem incluir sentimentos de tristeza, auto depreciação, desvalia, abandono, culpa, desesperança, idéias de suicídios, apatia, incapacidade de sentir prazer e mesmo uma angústia que suplanta qualquer experiência humana normal e possuem um caráter emocional extremamente doloroso.

Há uma falta de debates acerca da construção de tecnologias que possibilitem novas formas de inscrição/inserção social e, a minimização do sofrimento psíquico trata-se de uma construção, de um novo fazer, onde a discussão coletiva é uma das alternativas.

* Juliana de Almeida Lima é Psicóloga Clínica e atuante na Saúde Mental. Especialista em Saúde do Trabalhador, em Dependência Química e Saúde Pública.



3 comentários:

  1. Texto interesse e necessário para discussões e reflexões dos problemas e doenças psicossomáticas presentes na sociedade contemporânea. Infelizmente, ainda há preconceitos,falta de ações e/ou materialização das políticas públicas existentes nesta área. Que bom que vocês estão pautado o debate, mas também, parece-me que estão pensando em ações futuras não só curativos, mas preventivas nesta área. Tenho dito: se todos soubessem qual importante é, tenho certeza que fariam analises para evitar as possíveis doenças.

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  2. Ações preventivas e atitudes positivas é, ao noso ver, os caminhos para amenizar os problemas na área de saúde.

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  3. Não acredito que a má administração de uma cidade somente aconteça porque o administrador seja desonesto, é por falta de competência comprovada e indiscutível também, constatamos essa situação com a falta de projetos a descrença deles em relação à própria adoção de projeto apresentado por quem consegue elaborar-los com competência.
    Mesmo com toda desonestidade muitos deles fariam um melhor trabalho se tivessem competência para tanto.
    Chegou a tempo de se valorizar a competência, porque é fácil dizer o que esta errado, agora mostrar o caminho certo é outra situação, porque ser capaz é uma condição de preparo e não só de querer ser capaz.
    Saubara em particular está carente de bons projetos se bem que os projetos até existam só precisam ser respeitados e executados e poucos tem competência pra isso.
    Ou seja se honestidade é imprescindível competência também é primordial
    Continue seguindo o seu caminho até o dia do grande reconhecimento.

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